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Jovens empregam potenciais e transformam pequena comunidade rural em caso nacional de sucesso

Cooperativistas de Alagoas fazem missão técnica para aprender e experienciar turismo rural

Publicado em 02/01/2019

Ascom Sistema OCB/AL

A comunidade rural Chã do Jardim, localizada a 7 km do município histórico de Areia e a 134 km da capital João Pessoa (PB), ganhou fama nacional pelo empreendedorismo associado de jovens humildes que conseguiram transformar a vida das famílias de sua região. O Sistema OCB/AL* levou pequenos produtores de cooperativas alagoanas em missão técnica para conhecer, experienciar e se inspirar nos projetos.

Luciana Balbino, também conhecida como Luciana da Chã, 38 anos, conta como tudo começou: “Foi difícil, mas formávamos um grupo de jovens muito unidos pela religião e que se movimentava para ajudar famílias em questões alimentícias, de saúde ou até moradia e para fazer manutenção e melhorias em nossa igreja. Foi aí que vimos que, se unidos conseguíamos ajudar aos outros, também poderíamos nos ajudar”.

Luciana carregava consigo experiências empreendedoras desde os sete anos, quando catava castanha de caju para torrar, vender e poder comprar seu próprio material escolar. Ainda na infância e com supervisão do avô, ela plantou 50 pés de maracujá que renderam muitos sacos da fruta para vender. “Passei muitos anos sendo a maior empreendedora mirim de maracujá da região”, contou.

As experiências de plantar, colher e comercializar desde criança, além da alfabetização e da prática de leituras na igreja com voz e postura eloquentes, renderam a Luciana o papel de líder.

“No começo, há mais de 10 anos, nosso grupo da igreja tinha cerca de vinte jovens. Nós passávamos de casa em casa pedindo frutas que sobravam e a comunidade doava. Fazíamos polpa e vendíamos na margem da rodovia. Nós também incentivávamos quem nos entregava as frutas com a doação de mudas e os próprios moradores foram aumentando suas produções”, narra Luciana.

Com apoio do governo da Paraíba e financiamento em banco eles conseguiram montar uma fábrica e ir deixando a estrutura e os processos em conformidade com as exigências legais para funcionamento. “Essa parte foi muito difícil, mas conseguimos superar, aprendemos a trabalhar de forma segura”, destacou a líder.

Paralelamente o grupo tentava explorar o turismo na região, fazendo trilhas guiadas por área preservada da região remanescente de Brejo de Altitude.

Mas a renda ainda era pouca e notaram que as pessoas saiam das trilhas com fome. Foi aí que veio a ideia de planejar a construção de um restaurante e de um camping. “Após ser construído com muito sacrifício, o restaurante com estilo rural foi batizado de Vó Maria, pois é onde nós fazemos a festa e porque muita gente possui alguém querido com esse nome”, explica Luciana.

Hoje, somente o restaurante gera uma renda mensal de 50 mil reais. E eles também construíram uma loja de artesanato e de venda de sobremesas. Todos esses empreendimentos, incluindo passeio a cavalo ou bicicleta, são fontes de renda direta para 44 famílias e fonte de renda indireta para 200 famílias da comunidade rural que fornecem alimentos e artesanato, por exemplo.

A presidente da Cafisa (Cooperativa dos Agricultores Familiares do Sertão de Alagoas), Luciene Gadi, se emocionou com os relatos sobre o grupo liderado por Luciana Balbino e falou sobre a experiência que teve.

“Nossa cooperativa é de Pão de Açúcar/AL e começamos a evoluir de forma acelerada após o registro no Sistema OCB/AL*. Antes estávamos desacreditados e pedíamos que Deus mandasse alguém, porque não era possível que ficássemos abandonados em um local com tanto potencial”, expõe Gadi.

A presidente da Cafisa continuou: “Agradeço imensamente por ter tido a oportunidade de estar nessa missão técnica. Foi um dia inteiro viajando de Pão de Açúcar/AL até chegar aqui, mas valeu muito a pena e em breve quero trazer mais cooperados para se inspirarem e perceberem como é possível empreender e viver em nosso lugar. Vou voltar para Alagoas como se tivesse tido uma cura espiritual”, refletiu.

Após conhecerem todos os empreendimentos do grupo de Chã do Jardim, os cooperativistas alagoanos fizeram visita guiada à produção 100% orgânica do fornecedor de hortaliças Adailton Freire, 30 anos, e de sua tia Antônia Porfírio, 70 anos. Em seguida participaram de oficina de artesanato na palha de bananeira.

“Mas a técnica pode ser aplicada em qualquer tipo de palha”, explica Bernadete Quintino, 74 anos, dona de casa que começou criando uma bolsinha de palha e hoje já recebe encomendas. “Antes eu não sabia nem conversar. Hoje sei entrar e sair de qualquer reunião e ainda ensino aos outros. Tá vendo aí?”, pontuou.

Luciana Balbino contou aos alagoanos que o segredo do sucesso começa por planejar e executar. “Se algo tem que ser feito e ninguém quer fazer, eu vou lá e faço. Faço olhando pra ver se mais alguém aparece para ajudar, mas, se não aparece, faço sozinha mesmo. O que não pode é deixar de ser feito. Busco inspirar e sempre acaba chegando alguém para contribuir. E sei que hoje tudo funciona sem que eu precise estar 100% presente”, destaca.

A líder ressaltou ainda a importância da tomada de decisões coletivas e o investimento nas crianças.

“Aqui as decisões são todas tomadas em assembleia, tudo é votado e decidido pelo grupo. E temos a filosofia de investir nas crianças. Elas começam desde cedo se envolvendo nas atividades da igreja, cantando em coral que se apresenta em diversos locais, e em todas as atividades possíveis para que cresçam tomando gosto pelo o que em breve pode ser a fonte de renda da família que elas irão constituir”, explicou Luciana.

Ao longo dessa jornada de trabalho árduo e de crescimento, o grupo de Chã do Jardim foi descoberto e visitado pela imprensa, foi divulgado em programas de rede nacional, conquistou prêmios e é constantemente convidado para dar palestras. “Mas é bem diferente quando grupos vêm nos visitar e experienciar tudo do nosso local”, pontua a líder.

A programação da missão técnica dos alagoanos contemplou ainda visita ao complexo do Engenho Triunfo, incluindo as áreas dos processos de produção de cachaça artesanal, lojinha com cachaça, sorvete com cachaça e artesanato, casa do doce e viveiro de mudas, tudo em estilo rústico e com decoração tipicamente rural.

O município de Areia/PB deixou o grupo de Alagoas encantado por fazer enxergar potenciais turísticos em suas localidades, inclusive após a visitação ao centro histórico, contemplando o primeiro teatro da Paraíba, o Theatro de Minerva, de 1859, e que se mantém vivo até hoje, além de igrejas e casarões com 200 anos de história.

Para o presidente do Sistema OCB/AL, o intuito de proporcionar a missão técnica é mostrar aos pequenos produtores como é possível transformar realidades a partir de muito pouco ou quase nada. “Basta boa vontade para trabalhar, dedicação e união. Os moradores de Chã do Jardim passam a lição de que tudo é possível quando há vontade de crescer”, ressaltou Marcos Rocha.

Cícera Alves, 57, e sua neta Mariana Alves, 16, associadas da Coopeapis (Cooperativa dos Produtores de Mel, Insumos e Derivados Apícolas em Alagoas), com sede em Piranhas, fizeram parte da missão técnica.

“Vamos fazer uma reunião com os associados, mostrar as fotos e contar tudo o que vimos lá para decidirmos em conjunto o que será incrementado em nosso empreendimento. Já imagino que melhorar a sinalização e construir um redário será resolvido logo. Na próxima visita que fizerem à nossa sede já poderão ver o que evoluímos”, falou Cícera Alves.

Mariana Alves faz parte do grupo de mulheres que trabalham com foco no beneficiamento de alimentos na Coopeapis. “Um dia a minha mãe chamou para eu ajudar na produção e assim faz mais de um ano que tenho minha própria remuneração. Consigo ajudar em casa, comprar minhas próprias roupas e até terminei de pagar meu celular. O começo do Projeto Roça Cooperativa desenvolvido pelo Sistema OCB/AL* veio incentivar o empreendedorismo e o beneficiamento de alimentos aqui. A cooperativa mudou a minha vida e essa viagem foi incrível. Ampliou minha visão e volto motivada para me reunir com as cooperadas e planejarmos nossos próximos passos”, contou muito emocionada.

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*Sistema OCB/AL – Formado pelo Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado de Alagoas e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de Alagoas.

Confira o álbum de fotos: http://ocb-al.coop.br/fotos/missao-tecnica-sobre-turismo-rural-na-paraiba

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